O novo coronavírus insiste em ditar as regras e nós, obedecendo-as, fazemos tudo o mais que podemos. Prova disto foi a grande e solene Celebração que ontem tivemos em nossa igreja catedral. Os lugares nos bancos estavam quase todos vazios e, num relance do olhar, os mais otimistas talvez calculassem uns cinquenta fiéis leigos como assembleia celebrante. Muito pouco, é verdade, mas já aprendemos com essa pandemia que festa pode ser feita com poucas pessoas e em espaços vazios, pois o que realmente conta nessas horas não é a frieza do cálculo matemático, mas a intensidade do sentimento com que se celebra, e ela não nos faltou. Assim, com olhares fixos nas duas mesas, ouvidos atentos e sentimento de fé, pudemos render a Deus a mais justa e alta Ação de Graças, levando ao altar do Senhor nossa vida diocesana, pela celebração da Eucaristia:
Vida diocesana celebrada na Missa denominada dos santos óleos, quando Dom Armando abençoou os óleos dos enfermos e dos catecúmenos, também consagrando o santo óleo do Crisma; vida diocesana celebrada pela renovação das nossas promessas sacerdotais em torno e sob a autoridade do nosso amado Bispo; vida diocesana celebrada pela concessão do leitorado aos seminaristas Élcio Bonfim Neves e Pablo Barbosa do Prado, ambos caminhando para o sacerdócio ministerial; vida diocesana celebrada num preito de gratidão pelos 49 anos de presbiterado de Dom Armando, por graça de Deus e pela materna providência da Senhora do Livramento, nosso Bispo diocesano desde 18 de abril de 2004.
Como não celebrar os quarenta e nove anos de serviço de Dom Armando a Deus e a Igreja? Como deixar despercebido o seu jubileu áureo de ordenação presbiteral? Para quem o conhece e acompanha a etapa dessa doação em nossa Diocese, isso é dobrado dever: primeiro por ser o sacerdócio ministerial um dom de Deus à Igreja; depois, por esse dom ter sido confiado também à pessoa de Armando Bucciol, lá na longínqua Vittorio Veneto, onde há quase cinquenta anos ele se entregou por inteiro. E sendo ele o menor assumido pelo Autor do dom, o maior, o que era mera pessoa física, um ser substantivo, capaz de dizer “eu”, de refletir sobre si mesmo e de ter imagem consciente de si próprio, um ser racional, tornou-se um ser relacional, para os outros, pela via do serviço, que traduz em si a imagem viva e à semelhança com Deus, infectando comunidades, pastorais e movimentos por onde passa, despertando e encantando todas as faixas etárias, atraindo os de todas as classes, fazendo com que nestes rincões da Bahia, de Boninal a Dom Basílio, de Iramaia a Ibitiara, aqui e acolá, quase todos ao menos saibam quem é o bispo de Livramento de Nossa Senhora; outros tantos purificam e enriquecem sua fé a partir do que dele ouvem ou leem, havendo os naturalmente discordantes, porque a palavra de Dom Armando faz a diferença. E o melhor de tudo: todos esses feitos são mais que isso, porque fazer, qualquer bom profissional consegue, mas fazer ao tempo em que está constantemente junto, vive com, abraça, ouve, cuida, consola, conforta, aconselha, repreende, encoraja… tudo isso só faz aquele que associa ao seu ser o desdobrar do ser de Deus que, descendo ao mundo, nada reservou a Si, porque nos deu até a própria vida. Então, precisamos celebrar o ministério de Dom Armando, sim, porque ele se deu ao que o chamou e aqui para nós é o mais belo reflexo dessa realidade tão divina e tão humana, que a Própria nos ensinou a identificar com sendo a figura do BOM PASTOR.
Então, como não ser uma grande festa a feita tendo no espaço vintes e três padres – faltando apenas dois, justamente – dois diáconos, dez seminaristas – dos treze que temos – cinquenta leigos, todos rezando juntos a mais excelente de todas as preces, dirigidas ao único Deis verdadeiro com a presidência do Bispo diocesano, cuja presença garante a presença da Igreja inteira, na voz de Santo Inácio de Antioquia!
Assim, pandemia, coronavírus, COVID-19, nas terras de Nossa Senhora do Livramento, jamais serão além do que são, por mais ameaçadores que sejam. Quanto a nós, seremos muito mais, pois o que de modo limitado e obediente fizemos foi uma oportuna pausa restauradora a caminho do céu, o grande dia sem ocaso, a festa que não conhece fim.
Padre Rinaldo Silva Pereira
– chanceler do Bispado –