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GRAÇA E ARTE DE PRESIDIR – II

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De fato, a liturgia, através e apesar das diferentes expressões rituais e textuais, é o lugar da confessio fidei (manifestação da fé) da Igreja. Quem preside a ação litúrgica deve respirar com a Igreja e conduzir a Comunidade toda nesse espírito eclesial. Desse modo, no coração de cada irmão e irmã, vai amadurecendo a mesma profissão e intensidade de fé, e a liturgia será momento não só informativo, mas de graça, isto é, experiência viva da ação do Espírito na vida de cada fiel.

  1. a)Existe, porém, o perigo de se perder o autêntico espírito da presidência litúrgica e por diferentes causas. Pode ser que o exercício exigente do ministério tenha se esfriado aos poucos, juntamente com a razão profunda da escolha vocacional e com a fé em Jesus Cristo. Só a fé pode dar sabor e ardor ao exercício da presidência litúrgica.  A identidade de um Ministro da Igreja é revelada quando ele é capaz de ‘se perder’, doando sua vida no serviço aos irmãos, como Jesus: “Eu estou entre vocês como alguém que serve” (Lc 22,27). Se a força interior diminuir, também o exercício da presidência litúrgica fica enfraquecido.

Assim, ‘assistimos’ a celebrações litúrgicas que nem sempre estão de acordo em tudo com a autêntica liturgia e, às vezes, nem com o verdadeiro espírito evangélico. Pior quando são difundidas pelas TVs, incluindo as católicas. Observam-se, por exemplo, presidentes de celebração que chamam a atenção da Assembleia mais sobre si mesmos do que sobre o mistério pascal do Senhor. Palmas e choro, emoções e expressões subjetivas entram e dominam a celebração mesma. São modelos comunicativos que mais se parecem com comícios ou shows do que com a liturgia de nossa Igreja. Ainda mais: estilo presidencial que não manifesta amor para com o povo. Vemos isso quando aquele que preside se coloca acima dos irmãos e irmãs ou quando cobra sem se entregar de alma e corpo para o bem dos irmãos, ou ainda quando busca elogios e gratificações. Em suma, um estilo presidencial contrário às exigências da liturgia e da vida eclesial.

  1. b)O Ministro que ama e serve no estilo de Jesus viverá a presidência da Eucaristia qual momento alto de sua fé e de seu serviço. Quem preside a liturgia e a vida da Comunidade em atitude fraterna e serviçal contagiará o seu povo. Sua abertura e sensibilidade farão crescer, ao redor de si, o número e a qualidade dos que servem por amor. O ícone mais expressivo do que significa presidir, tanto a celebração como a Comunidade, permanece Jesus, que começa a celebração da última Ceia lavando os pés dos discípulos e a termina entregando-se à morte. Toda celebração exige que se torne visível na vida a caridade de Cristo que tem sua culminância na Páscoa, e seguindo a recomendação do Concílio de colocar todo o agir litúrgico no contexto do memorial da Páscoa do Senhor (cf. Sacrosanctum Concilium – SC 5).

O ato de presidir deve alimentar um diálogo orante com Deus e conduzir à escuta da Palavra, à ação de graças, à contemplação do Mistério e ao olhar de amor sobre a história humana. Para bem presidir, é preciso ter aprendido e saber ajudar a ‘Assembleia’ – sujeito principal da celebração – nessa escuta atenta e no agradecimento confiante, no louvor alegre e no ‘fazer memória’ sentindo-se parte viva de uma longa história de salvação da qual a liturgia é ‘momento’ atualizante.

Presidir a celebração da Eucaristia é graça; é aproximar-se do fogo de Deus, como aconteceu com Moisés e Elias; comporta ficar face a face com o Senhor, mergulhando no seu amor. Quem vive e se alimenta da escola da Palavra e nela escuta os apelos de Deus, sobre si e para o seu povo, terá disposição para acolhê-los. Quem preside qualquer celebração deve conhecer, por experiência, o estilo do agir de Deus no coração dos discípulos. Por isso, é preciso manter o ‘olhar fixo em Jesus’ (cf. Hb 12,1-2), na espera da plena contemplação. A Eucaristia ensina a manter aberta a esperança através das frequentes invocações: “Vem Senhor Jesus”, “até que Ele venha”. Quem vive da liturgia, aprende, também, como viver relações humanas autênticas e profundas.

 

Dom Armando