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O ANO LITÚRGICO – I

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Depois de ter refletido sobre a celebração da Eucaristia, vamos conhecer o sentido do Ano Litúrgico na vida da Igreja. Todos que frequentam a Igreja têm alguma ideia a respeito do que significa Ano Litúrgico e seu valor na vida cristã. Por exemplo, todos compreendem que o tempo da Quaresma tem um caráter penitencial, diferente do tempo pascal. Mas, o sentido mais profundo de tudo o que celebramos, os motivos e as características de como a salvação entra em nosso tempo – o nosso hoje – isso é algo muito rico em conteúdos e espiritualidade.

Para entender melhor o sentido do que nós cristãos fazemos ao longo do ano que chamamos de litúrgico, é preciso, antes de tudo, refletir a respeito do que é o tempo e a ligação de nossa vida com a dimensão ‘tempo’.

Tempo e espaço são as duas dimensões fundamentais de toda atividade humana, e toda celebração litúrgica acontece no tempo e no espaço, realidades que têm tantos sig­nificados humanos e que na liturgia adquirem valor e sentido próprios. Todos têm experiência do “tempo que passa” e carrega consigo as nossas vidas.

Mas, o que é o tempo? S. Agostinho respondia: “Se ninguém me perguntar, eu sei, se quiser explicá-lo a quem me fizer a pergunta, já não sei” (Confissões, livro 11,14). Já os antigos filósofos se perguntavam: “O que é a passagem do tempo”? “O tempo avança sempre com a mesma velocidade”? “O tempo do homem corresponde ao tempo dos outros seres existentes”?

Não é minha intenção enfrentar todas essas questões filosóficas e antropológicas, mas lembrar que existem.

Podemos considerar o tempo em sua dimensão de tempo cósmico, “o tempo dos calendários”; mas esta é só uma ma­neira de calcular o tempo, em que todas as horas são iguais. Existe, também, um tempo interior, que mede o devir da vida humana. Toda festa ritualiza o tempo primordial e regenera o tempo cotidiano. O rito serve para atualizar o acontecimento do início, quando este se deu pela primeira vez, por obra de um ‘deus’, um herói. Aparece, assim, a ideia de tempo sagrado, diferente do tempo ordinário.

Nos antigos, encontra-se a concepção do tempo cíclico, dominado pela lei do eterno retorno: os mesmos eventos se reprodu­zem constantemente. Desse modo, a história é algo fechado. Na visão dos antigos gregos, o deus Kronos dominava, como pai de todas as coisas, girando a roda do eterno destino, em que todos os seres eternamente renascem. A história, assim, é sem esperança de um futuro diferente; é uma história que sempre recomeça e nunca se cumpre. Nesta visão, a salvação é possível só fora do tempo, fugindo desse círculo eterno que amarra o ser humano à fatalidade.

tempo sagrado visa romper o círculo inexorável do constante retorno à origem, para mergulhar no tempo divino, no qual os deuses vivem e recriam o mundo. O calendário primitivo não serve para medir o tempo, mas para indicar o poder divino que nele se manifesta.

O ano é um dos símbolos mais expressivos da vida humana. Por isso, cada novo ano traz consigo um tempo novo e, com ele, novas esperanças e renovadas energias.

Para nós cristãos, a compreensão da história se dá a partir da Encarnação de Jesus; Ele entrou no tempo e introduziu no nosso tempo o louvor eterno que Ele dirige ao Pai. Ele, também, santifi­cou o tempo, assumindo a oração do seu povo. Disso,0 iremos refletir em nossas próximas conversas.

Dom Armando