O jejum consiste na renúncia voluntária de alimento por um determinado tempo, por motivos religiosos; encontra-se com finalidades e modalidades diferentes, no Hebraísmo, no Cristianismo e no Islã, as três grandes religiões monoteístas, e não só.
Antes de tudo, o jejum cristão não acontece para melhorar a saúde, perder peso ou finalidades semelhantes. Jejuar é sinal de penitência, visa uma mais íntima experiência de Deus, a expiação dos pecados, ou o domínio das paixões e dos instintos. O jejum bíblico, como o jejum dos muçulmanos, no Ramadan, é um meio; tende a purificar o espírito para liberar energias interiores. Não é possível se aproximar de Deus sem uma íntima purificação espiritual. Moisés, Elias e Jesus jejuaram por 40 dias, para estarem à altura da missão, exigente e importante. De Moisés se lê que ficou ali com o Senhor quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão nem beber água (Ex 34,28); de Elias se conta que se levantou, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus (1Rs 19, 8). Jesus jejuou quarenta dias e quarenta noites. Depois teve fome (Mt 4,2) e enfrentou o diabo que o tentava.
Jesus alerta os seus discípulos para que não pratiquem o jejum só para receber elogios; ao contrário, ensina: Tu quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os outros não vejam que estás jejuando, mas somente teu Pai… (Mt 6,17-18). Jesus se apresenta não como um rigoroso asceta, como foi João Batista. Por isso é criticado e com ele os seus discípulos: Por que …os teus discípulos não jejuam? (Mt 9,14). A resposta de Jesus é surpreendente: Acaso os convidados do casamento podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo lhes será tirado. Então jejuarão (ib., 15). O jejuar adquire novos sentidos, não está só ligado à renúncia, mas a uma abertura de amor com o Senhor, o Esposo que ama os seus amigos até o ponto mais alto (cf. Jo 13,1).
Na história da Igreja, a proposta do jejum está presente desde o início. Existem dias recomendados para o jejum: sexta e quarta feira, sobretudo; em Roma, também aos sábados. Em alguns períodos da Idade Média, especialmente nos mosteiros, o jejum era rigoroso, só uma refeição diária, na tarde. Mas, mudando os costumes, fica mais branda também a praxe do jejum. São Bento recomendava aos seus monges de moderar os alimentos, durante a Quaresma, e de esperar “a Santa Páscoa com a alegria do desejo espiritual” (Regra, 49).
O Papa Paulo VI, retomando as orientações de SC 110, explica a finalidade dessas práticas penitenciais na realidade social de hoje. Dois dias permanecem como ‘obrigatórios’ para todos os cristãos jejuar: a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa, qual sinal de comunhão eclesial e mais intenso crescimento espiritual. O jejum, como ensina Jesus (cf. Mt 6), sempre deve se acompanhar à oração – íntima e sincera comunhão com o Senhor – e à esmola, qual partilha com os mais necessitados e empenho na construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
O jejum eucarístico foi reduzido, desde os tempos do Papa Pio XII (1953), a três e, em seguida, a uma hora antes da comunhão, em sinal de respeito e de espiritual preparação. Isaque de Nínive afirmava: “O conhecimento dos mistérios de Deus não é possível a um ventre cheio”.
Dom Armando