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ORIENTAÇÕES PARA O TEMPO DA QUARESMA

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            Estamos iniciando um dos tempos fortes de nossa Igreja, cujo grande objetivo é a preparação para a maior festa de nossa fé, a Ressurreição de Jesus. Assim, percebemos que o Tempo da Quaresma é um caminho de purificação, realizado na presença do Senhor, cujo destino é alcançar a vida nova em Cristo Ressuscitado. Mas, como viver bem esse tempo? Qual a melhor maneira de realizar nosso encontro com o Servo Sofredor que nos promete a glória sem fim? Sem dúvida alguma, a Liturgia é uma grande riqueza da Igreja, e através dos seus ritos bem vividos nos inserimos nos mistérios do Cristo.

            Podemos ter por certo que: quanto mais unidos estivermos a Liturgia e aos ritos de nossa Igreja, mais unidos estaremos a Jesus, razão e centro de nossa fé. Para isso, não basta celebrar. É necessário ser envolvido pelo mistério celebrado, participando ativamente e transpondo em gestos concretos, no cotidiano de nossas vidas, tudo aquilo que experimentamos na presença do Senhor, reunidos como comunidade de fé. Nestas breves linhas, iremos apresentar alguns pontos com o objetivo de bem celebrar o Tempo da Quaresma.

            Ornamentação: Embora toda Quaresma esteja voltada para a Páscoa, não podemos nos esquecer que é um tempo de recolhimento, no qual acompanhamos e vivemos os últimos passos de nosso Senhor Jesus Cristo nesse mundo, marcados pela tentação, rejeição e sofrimento. O caráter penitencial da Quaresma, pede sobriedade na ornamentação. Tanto o Missal Romano, como o Diretório Litúrgico, dizem que: “é proibido ornar o altar com flores”. Deste modo, compreendemos que o espaço litúrgico deve estar despojado de arranjos. Todavia, nas celebrações das solenidades que acontecem nesse tempo, pode-se ornar o altar, como o dia de São José e a Anunciação do Senhor. Guardando, é claro, a sobriedade do tempo no qual estamos inseridos. Tal sobriedade se estende inclusive às celebrações do Matrimônio, onde as pompas excessivas devem ser evitadas.

            Cantos: O ato de cantar não indica apenas a execução de uma música, mas, na Liturgia, requer a madura atitude espiritual de quem manifesta, através da melodia e da letra, sua profunda união com os mistérios do próprio Cristo. Como a Quaresma nos convida a meditar os sofrimentos de Jesus, os cantos também devem estar marcados pela sobriedade, que é uma característica muito presente nesse tempo. Aqui, mais uma vez, recorremos às orientações do Missal e do Diretório Litúrgico: “o toque de instrumentos musicais é permitido somente para sustentar o canto”. Assim sendo, não devemos abusar do volume dos instrumentos, muitas vezes excessivos, cobrindo a voz da assembleia. Cantar a Quaresma é cantar a Paixão de Cristo. Ainda, o “Aleluia” deve ser omitido em todas as celebrações e ofícios, retornando apenas na Solene Vigília Pascal.

            Ensaios: Frequentemente, os ensaios estão associados ao aprendizado de cantos novos. Com certeza, trata-se disso, mas não é apenas isso. Ensaiar os cantos é também promover a unidade entre os membros dos grupos, ministérios e corais, formando verdadeira comunhão e participação. Só podemos levar os outros até onde já chegamos. Como pode um grupo conduzir a assembleia à unidade, a uma só voz, se ele mesmo não vive o espírito de comunhão nos ensaios? Ainda, o ensaio não se restringe aos grupos de cantos ou corais, mas deve ser estendido a toda assembleia. É conveniente que os responsáveis pelos cantos cheguem com antecedência e, antes das celebrações, ensaiem também com o povo. Aos poucos, esse gesto despertará a assembleia, cada vez mais, para uma ativa participação.

            Campanha da Fraternidade: A Igreja no Brasil tem um modo especial de vivenciar a Quaresma. Sabemos que a nossa vida não se encerra nos ritos e celebrações, mas, vivendo bem essas dimensões da fé, somos convidados a transpor em gestos concretos o que celebramos, em outras palavras, praticar a vontade de Deus. A Campanha da Fraternidade é justamente um caminho que a Igreja nos indica para vivermos a fé na prática da vida. Neste ano somos convidados a meditar o tema: “Fraternidade e Ecologia Integral”; com o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” Gn 1,31. Com este tema, somos chamados a compreender a nossa responsabilidade para com a casa comum: somos cuidadores, guardiões deste grande paraíso que Deus confiou ao gênero humano. O tema da campanha pode ser trabalhado em encontros, celebrações e via-sacras, conforme o subsidio preparado pela CNBB Regional Nordeste 3. Mas, podemos ir muito além, trabalhando este tema tão pertinente também nas escolas, com os poderes públicos, nas catequeses de crianças, jovens, adultos, enfim…

            Celebrações Penitenciais: Maior que o nosso pecado é a Graça de Deus. Acima de nossas iniquidades, manifesta-se a misericórdia do Senhor, sempre pronto a nos perdoar: “Por minha vida, diz o Senhor, não quero a morte do pecador, mas que ele se converta e tenha vida” (Ez 33,11). O Tempo da Quaresma é propício para celebrar e viver a reconciliação. Na Cúria diocesana temos o subsidio pastoral: “Convertam-se e acreditem no Evangelho”. O mesmo possui uma série de possibilidades de celebrações penitenciais voltadas para os mais diversos grupos: crianças da catequese, crismandos, jovens, casais, adultos e idosos… Cada comunidade ou grupo pode promover esses momentos de oração e de vivência do perdão, seguindo os modelos apresentados no subsidio.

            Existem muitos modos de viver o Tempo Quaresmal. O que não pode acontecer é que passemos por esse tempo sem que ele passe por nós. Cada gesto, cada símbolo, deve ser acolhido com generosidade de coração, que é centro de comunhão com Deus, com os irmãos e conosco mesmos. Acolher a espiritualidade da Quaresma com suas práticas, como o jejum, a caridade e a oração, é estar aberto à caminhada rumo à Ressurreição de Jesus. “Eis o tempo de conversão, eis o dia da Salvação. Ao Pai voltemos, juntos andemos. Eis o tempo de conversão”!

Pe. Júlio César Cambuy

Assessor diocesano de Liturgia.