A Festa de Corpus Christi é marcada pela procissão com o Santíssimo Sacramento pelas ruas das cidades. Como manifestação pública da fé, a devoção certamente se enriquece com a presença de Deus na vida do povo, passando onde tantas vezes trilhamos no ‘corre-corre’ da vida cotidiana. No período que precede o dia santo há uma movimentação singular em diversas comunidades, mobilizando os fiéis para a confecção dos tradicionais tapetes. Essa tradição foi passada ao Brasil pelos portugueses e, em muitos lugares, tornou-se atração turística.
Sem desprezar os costumes de cada lugar, mas ocupando-se de uma necessária formação sobre o sentido e a importância da Eucaristia para a vida da Igreja, a Paróquia de Santa Luzia de Ibipitanga promoveu a 4ª edição da Semana Eucarística. Com o tema “Sejais o que vedes, recebais o que sois” (Santo Agostinho), os fiéis participantes puderam receber uma preparação cuidadosa em vista de uma aproximação lúcida e consciente da Eucaristia. “Para que seja plena a eficácia da liturgia, é preciso que os fiéis se aproximem dela com as melhores disposições interiores, que seu coração acompanhe sua voz, que cooperem com a graça do alto e não a recebam em vão” (SC n. 11).
Um dos maiores desafios em nossa realidade pastoral é o desconhecimento acerca da Eucaristia. Notamos uma distância por parte de alguns católicos, sobretudo, homens, que resistem em ‘entrar’ na procissão para participar da Comunhão Eucarística. Além disso, a visita ao Santíssimo Sacramento no Sacrário, em alguns casos, segue automática, como já se verificou, por exemplo, na Sexta-feira da Paixão, quando diante do sacrário vazio, muitos se aproximaram e de joelhos rezaram, como se estivessem adorando o Senhor. Outros tantos hesitam em olhar para o Altar e reconhecer nas espécies consagradas o Pão da Vida e o Cálice da Salvação. Nem sempre o “Amém” da Doxologia faz sentido, pois dá a impressão de que não se crê no que se recebe. Inspira-nos o que diz o profeta Isaías: “Esse povo se aproxima de mim só com a boca, e me honra só com os lábios, enquanto o coração está longe de mim, e seu temor para comigo é como preceito humano, aprendido de rotina” (Is 29,13).
Diante de tamanha incompreensão e para enriquecer aos que empenham-se fielmente numa aproximação consciente desse sacramento que nos une a Deus, partimos de três palavras: presença, transformação e comunhão. Para fundamentar o conteúdo do primeiro dia, partimos da seguinte afirmação do Código de Direito Canônico: “Augustíssimo sacramento é a Eucaristia, na qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Corpo do Senhor” (cân, 897). A Eucaristia é a presença sacramental de Jesus, que doa o seu Corpo e Sangue para dar vida à nossa vida – “Aqui está o pão que desce do céu, para que não morra quem dele comer” (Jo 6,50). No segundo dia, com a palavra transformação, servimo-nos da seguinte afirmação do Catecismo da Igreja Católica: “Pela consagração do pão e do vinho, opera-se a mudança de toda a substância do pão na substância do Corpo de Cristo nosso Senhor e de toda a substância do vinho na substância do seu Sangue. A esta mudança, a Igreja católica denominou, com acerto e exatidão, transubstanciação” (CIC § 1376). Não só explicamos sobre a transubstanciação, quando as espécies do pão e do vinho apresentadas no Altar, pela invocação do Espírito Santo (epiclese), tornam-se Corpo e Sangue de Jesus, mas também destacamos a transformação de vida à qual somos chamados através da Eucaristia. Jesus abraça a nossa frágil humanidade para transformá-la, inspirando-nos em nossa vida cotidiana a transformar a nossa realidade pessoal, familiar, social e eclesial. “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, pela renovação da mente, para que possais distinguir o que é vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito” (Rm 12,2). Por fim, no último dia, com a palavra comunhão, apresentamos as recomendações da Igreja quanto à preparação cuidadosa para participar do banquete eucarístico. “Examine-se cada um a si mesmo e, assim, coma do pão e beba do cálice” (1Cor 11,28). Aproveitando o espaço litúrgico, destacamos a importância do Altar, relacionando o caráter da refeição e do sacrifício na Celebração Eucarística, na qual o Cristo se doa como alimento de vida eterna, unindo-nos intimamente a Ele pela sagrada Comunhão.
Em suma, a Semana Eucarística contou com o apoio da Pastoral Bíblico-Catequética, dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística, dos Coroinhas e de outros mais envolvidos na Pastoral Litúrgica, esforçamo-nos entre os dias 27 e 29 de maio para realizar as Catequeses Eucarísticas, que aconteceram na Igreja Matriz e reuniram a cada dia cerca de 140 participantes em média. Na Celebração Eucarística da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, alguns adultos da Catequese comungaram pela primeira vez. E o dia Solene concluiu com a procissão Santíssimo Sacramento pelas ruas da cidade, em clima de oração e reverência. Não tínhamos tapetes, mas certamente corações mais conscientes e abertos para o Senhor, não apenas passar, mas permanecer como alimento de vida eterna.
Pe. Marcos Bento
Administrador Paroquial