A primeira freguesia do Alto Sertão Baiano foi criada em 1718, sob a invocação de Santo Antônio, com o nome de “Freguesia do Sertão de Cima”, instalada no atual povoado do Mato Grosso. Posteriormente, por força da Provisão Régia, de 02 de outubro de 1745, a sede da primitiva freguesia foi transferida para a Vila Velha de Nossa Senhora do Livramento das Minas de Rio de Contas (atual cidade de Rio de Contas), mudando sua invocação para “Freguesia do Santíssimo Sacramento das Minas de Rio de Contas”. As alfaias vindas da Igreja de Santo Antônio foram transferidas para a capela de Sant’Ana, hoje inexistente, localizada na atual Praça Senador Tanajura, visto não estar concluída a nova Igreja matriz, o que aconteceu somente na segunda metade do século XVIII.
A igreja matriz, que se constitui no mais relevante exemplar da arquitetura religiosa barroca do sertão baiano, teria sido projetada prevendo corredores laterais sobrepostos por galerias e tribunas. Isso não aconteceu, uma vez que tribunas entaipadas, alicerces e pedras de amarração indicam que o edifício ficou inacabado. O que foi concluído apresenta planta em “T”, desenvolvida em nave única e coro, sendo a capela-mor encimada por forro que recebe pintura ilusionista, de inspiração italiana. No seu interior destaca-se a carpintaria das sanefas, guarda-corpos do coro, tribuna, escada do púlpito, entre outros elementos, dentre os quais sobressai o altar-mor e dois altares laterais, todos em estilo barroco, que logo remetem o fiel à abundância do ouro na Chapada Diamantina dos séculos VXIII e XIX. O acervo dos bens históricos de valor artístico e cultural é considerável, valendo menção às inúmeras imagens barrocas em madeira policromada, também o conjunto formado pela cruz processional e par de tochas, confeccionadas em prata portuguesa do século XVIII, além do cálice e ostensório em vermeil, sendo este último ricamente trabalhado. Luminárias em prata portuguesa, mais que instrumentos a propiciar iluminação ao espaço, a este valorizam, sendo elas arte de singular beleza. Sem par é o busto do Sagrado Coração de Jesus, sobreposto ao sacrário do altar mor. A imagem é um retribuição enviada por Dona Maria I, Rainha de Portugal, aos súditos rio-contenses, por um cacho de bananas em ouro, tamanho natural, com o qual eles a presentearam.
A Freguesia do Santíssimo Sacramento de Rio de Contas pertenceu à Arquidiocese de São Salvador da Bahia, desde sua ereção até 20 de outubro de 1913, quando ela passou a recém-criada Diocese de Caetité, assim ficando até 27 de fevereiro de 1967, data da criação da Diocese de Livramento de Nossa Senhora, pela bula Qui Divina Liberalitate, do Papa Paulo VI. Nesse mesmo ano, a freguesia (hoje paróquia), anexada à nova Diocese, foi entregue aos cuidados pastorais e administrativos da Sociedade Joseleitos de Cristo, que nela permaneceu até 07 de dezembro de 2019, merecendo destaque o padre Claumino Carlos Freitas, pelos vinte e cinco anos de serviço e esmerada dedicação ao Colégio CIRCEA, do qual foi professor e diretor. Mas, segundo atuais lideranças leigas paroquiais, foi com a presença marcante do padre Valderi Tavares da Silva, também joseleito de Cristo, que a Paróquia viu deslanchar seu serviço de organização e assistência às comunidades rurais, onde a vida eclesial é mais intensa.
Da sua fundação até a chegada dos Joseleitos de Cristo, vários padres estiveram à frente da Paróquia do Santíssimo Sacramento de Rio de Contas. Pelos livros das irmandades e de relação das casas da Vila de Nossa Senhora do Livramento e Minas de Rio de Contas, existentes no arquivo municipal de Rio de Contas, de 1745 a 1967, sessenta e um padres passaram pela sede paroquial rio-contense. Na lista organizada pelo Padre Claumino Carlos Freitas, em 11 de junho de 1991, aparecem algumas curiosidades dignas de nota, como o nome Rev. Dom Abade de São Bento (1868), o que parece impossível; também as vacâncias que entenderam até quatro anos, como é o caso do tempo entre 1874 a 1878, em contraposição aos nomes de três vigários no ano de 1844. Dignas de nota são as idas e vindas dos padres Manoel José Lúcio Ramos e Manoel Joaquim Sant’Ana, revisitando a paróquia por várias vezes de 1905 a 1950, nela permanecendo por mais tempo, se somarmos os arcos de tempo alternados com outros sacerdotes, que os dois trabalharam em Rio de Contas.
Em 2019, a Diocese recebeu a Paróquia das mãos dos Joseleitos de Cristo e a entregou ao padre Rinaldo Silva Pereira, do clero diocesano, nomeado pároco. Nessa nova fase, não obstante a pandemia, que freou muitas inciativas, há esmerado empenho na organização da infraestrutura, praticamente inexistente, reestruturação dos setores paroquiais, formação das lideranças, catequistas e ministérios leigos, revitalização dos movimentos eclesiais e assistência sistematizada às comunidades, tudo isso em comunhão e atenção às exigências da Igreja Universal e diocesana, que clama por uma igreja em saída.
Certo é que, enquanto local onde a caminhada eclesial da Chapada Diamantina tem suas origens, a Paróquia de Rio de Contas é única. Enquanto caminhada em si, sua vida hodierna se mistura à das demais paróquias, uma vez que ela é parte de um todo diocesano, com um rosto eclesial próprio, delineado pelas exigências do Concilio Vaticano II, sob o olhar pastoral e administrativo do respectivo Bispo, e os cuidados maternos de Nossa Senhora do Livramento, padroeira da Diocese que honrosamente recebe seu nome.