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MEMÓRIA: … NA VIDA E NA MORTE, NOBRE SIMPLICIDADE! – HOMENAGEM POSTUMA A SEU ÉRICO LOPES

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Na catedral éramos poucos, vários bancos permaneceram vazios; alguns membros do coral Nossa Senhora do Livramento, ao som do órgão, sem arranjos mecânicos, entoavam “a vida pra quem acredita”; no presbitério dois padres amigos aguardavam paramentados; a silenciosa chama do círio pascal lembrava o Cristo que, se consumindo, nos faz encontrar a Verdade;a essa coberta com o tecido roxo, que levemente tremulava…tudo isso montava o cenário da celebração exequial oficiada na manhã do último dia 18, quando, numa suntuosa urna funerária foi levado catedral a dentro o corpo do nosso irmão Érico Lopes,  que encerrou sua caminhada terrena no dia anterior. Rezamos, ouvimos a Palavra, refletimos, cantamos e nos despedimos daquele irmão, franzino de corpo e de pouca estatura, mas de robusta envergadura moral; um homem de fé, que fez da arte seu jeito de glorificar a Deus e as coisas santas, como também pela sua obra foi capaz de expressar sua fé, um tanto ingênua, bastante alegórica, mas não menos autêntica.

Catedral de Nossa Senhora do Livramento, antes das reformas.

Érico Lopes de Oliveira (seu Érico), nasceu em Livramento de Nossa Senhora, a 18 de outubro de 1929, filho de Fulgêncio de Oliveira e de dona Eliza Lopes de Oliveira. Frequentou pouco a sala de aula – somente até o 1º ano – mas foi um artista nato, conseguindo exercer com suas mãos e inteligência os ofícios de pintor, restaurador, escultor, marceneiro e pedreiro, o que lhe possibilitou transformar sua casa de morada, em Livramento, num espaço repleto de obras de arte, ligadas à fé ou não. Por 45 anos morou em São Paulo, a trabalho, mas, aposentado, voltou para sua amada Livramento de Nossa Senhora, em 2001.

São obras suas, em nossa Diocese, a restauração e pintura do altar mor da catedral e da matriz de Barra da Estiva, como a restauração dos quadros da Via sacra expostos na catedral, estes doados pelo Mosteiro de São Bento da Bahia, na década de 1970, por influência do Irmão Pascoal, OSB, livramentense de nascimento. Foi seu Érico quem deu à réplica da imagem de Nossa Senhora do Livramento ajustes escultural e na policromia para se assemelhar à entronizada no altar mor da catedral, uma vez que a adquirida em gesso, no início deste século, em nada parecia à original. Ainda podemos enumerar o restauro de Senhor dos Passos, imagem da imaculada Conceição e do busto de São Tarcísio, pertencentes acervo da catedral, como merecem menção o restauro da pia batismal da catedral, de incalculável valor sentimental a todos nós que ali nascemos na fé e para a Igreja, e a escultura e pintura de uma imagem de santa Josefina Bakhita, por ele doada à igreja na comunidade denominada Patos, pertencente à catedral. São inúmeros os restauros, reparos, retoques e ajustes feitos pro seu Érico Lopes em muitas obras de artes espalhadas por Livramento e região, de acervos e devoções particulares como pertencentes a igrejas da nossa Diocese. E isso tudo feito no silêncio de quem tão somente queria colaborar, o que acabou por transformar os feitos em nobre simplicidade.

Em nossas memórias ficam a lembrança de um artista simples, de fé, que não foi capaz de tornar despercebida sua imagem de artista e presença em nossa comunidade eclesial. A casa de seu Érico e obras lá existentes agora formam um legado sem igual deixado à posteridade livramentense, cujos cuidados e preservação cobram dos herdeiros sensibilidade e irrenunciável esmero de que ama a arte.

Pe. Rinaldo Silva Pereira

Chanceler do Bispado